Coluna Rio
Por Arq. Débora M. S. De Carvalho
Quando se chega na área do porto maravilha, no Rio de Janeiro, a visão do edifício do Museu do Amanhã tem um impacto único e surpreendente. Por mais fotos que tenhamos visto, por mais vídeos e reportagens publicadas sobre ele, a presença física ali, tão perto de um gigante da arquitetura moderna é sensacional. Todo o entorno na região portuária – maior projeto de desenvolvimento e requalificação urbano em curso no país – fica, por alguns momentos, ofuscado pela beleza, a dimensão e a arquitetura arrojada que parece flutuar levemente sobre o mar.
Sentar na área externa e simplesmente contemplar o edifício de vários ângulos já vale o passeio. Para aproveitar ao máximo a luz natural e a beleza natural do entorno, foi utilizado muito vidro. Para amenizar o calor e captar energia natural, sua cobertura possui 48 abas metálicas com painéis solares, que fazem lembrar as asas de um pássaro, e se movimentam de acordo com a posição do sol. O imenso espelho d’água com a exuberante estrela que repousa sobre ele, que não têm apenas função estética, mas contribui para reduzir em até 2 graus a temperatura ambiente, é um convite para apreciar o final do dia por ali.
Mas é claro que isso é impossível não mergulhar no espaço interior. E quando se entra, a arquitetura grandiosa e a dinâmica do museu voltam a surpreender. O museu tem exposições temporárias e a exposição principal dividida em cinco itens: cosmos, terra, antropoceno, amanhãs e nós.
A primeira experiência da exposição principal, cosmos, aborda a visão de que somos feitos da mesma matéria que as estrelas e nos conectamos com o universo. Dentro de um domo, o visitante é imerso numa projeção em 360 graus, percorrendo galáxias, o coração dos átomos e o interior do sol. Ali, deitados, relaxados, se assiste à formação da terra manifestada pela arte. A ideia é que o visitante possa experimentar as dimensões da nossa existência natural que não estamos acostumados a vivenciar, sem recorrer a instrumentos científicos.
O segundo momento da exposição principal, terra está associado à pergunta “quem somos?” Somos matéria, vida e pensamento. Essas três dimensões atuam umas sobre as outras e, na exposição, estão representadas por três cubos de sete metros de altura. Todos os cubos têm um lado interior e um exterior.
O percurso da exposição principal encerra com o exercício da imaginação em nós, propondo a ideia de que o amanhã começa agora, com as escolhas que fazemos. Vivemos em um planeta profundamente transformado pela nossa própria intervenção
O “nós” está estruturado em torno do ambiente de uma oca, que simboliza uma casa do conhecimento indígena, em que os membros das famílias e clãs da tribo vêm se reunir e os mais antigos repetem para os mais novos as lendas, as narrativas, as histórias que compõem o fundamento de sua cultura.
É o momento do visitante se debruçar um pouco sobre ele mesmo, refletir sobre como quer viver com o mundo – pela sustentabilidade – e com os outros – pela convivência. A ênfase não é na informação, mas sim os valores que são compartilhados com o visitante.
Fora as exposições permanentes, sempre há exposições temporárias de alta qualidade, como o ballet mágico e envolvente de um jogo de tecidos fluídos e furta cores que se movimentam em túnel de vento e que parecem acompanhar a melodia e o ritmo do jogo de luzes suaves que invadem o espaço desta instalação. Impossível não ficar ali por alguns bons minutos, atônito com a beleza, a leveza dessa arte e não ficar dias depois lembrando desse momento. Obras como essa, são sempre mais um motivo para se repetir a visita ao museu.
Este belíssimo projeto arquitetônico que abriga o museu, foi concebido pelo arquiteto e engenheiro espanhol, Santiago Calatrava, considerado um dos mais importantes arquitetos da atualidade. Calatrava foi um dos responsáveis pela revitalização do porto de Buenos Aires, entre outros projetos de importância internacional. Em 2015, ele foi o vencedor do prêmio europeu de arquitetura, concedido pelo museu de arquitetura e design Chicago Atheneu e pelo centro europeu de arquitetura, arte, design e estudos urbanos.
Ainda vale ressaltar que o projeto seguiu muitas orientações de sustentabilidade, desde o canteiro de obras. A seleção de todos os materiais foi realizada a partir de critérios ambientais, com preferência a materiais com componentes reciclados, baixa toxidade, alta durabilidade e produzidos próximos ao local da obra e uso de madeira certificada FSC. Entre as ações de arquitetura estão a utilização de água da baía de guanabara no sistema de ar-condicionado, a captação de água da chuva armazenada na estação de tratamento de água para reuso e a captação de energia solar através dos painéis fotovoltaicos instalados na cobertura.
Que nossas crianças, e que a criança que ainda existe dentro de cada um de nós, possam visitar este museu genial e repensar profundamente sobre como nossas ações podem fazer a diferença sobre o amanhã da casa de todos nós, o espetacular planeta terra. Este futuro está em nossas mãos!
Um ambiente de explorações sobre o amanhã que queremos.
Bem-vindo, você está em um museu de ciências diferente.
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